sábado, 20 de outubro de 2007

Elogio da Loucura - III

A Loucura continua a falar:
 
"[...] Por ora, quero imitar aqui os mestres de retórica de nossos dias, que se julgam pequenos deuses quando, como a sanguessuga, parecem servir-se da língua deles, e que veem como algo maravilhoso entrelaçar, a torto e a direito, num discurso latino, algumas palavras gregas que o tornem enigmático. Se não conhecem nemhuma língua estrangeira, eles tiram de algum livro bolorento quatro ou cinco palavras com as quais deslumbram o leitor. Os que as compreendem ficam satisfeitos de achar uma ocasião de se comprazer em sua própria erudição; e, quanto mais elas parecem ininteligíveis aos que não as compreendem, tanto mais são admiradas por isso. Pois, para esses meus amigos, não é um prazer pequeno admirar as coisas que vêm de longe. Se, dentre os últimos, houver algum com a vaidade de querer passar por sábio, um pequeno sorriso de satisfação, um pequeno sinal de aprovação, um movimento de orelha à maneira dos asnos será o sificiente para salvar sua ignorância aos olhos dos outros [...]
 
Desiderio Erasmo
Elogio da Loucura

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