sábado, 20 de outubro de 2007

Elogio da Loucura - IV

A Loucura continua com o seu discurso na assembléia:
 
"[...] Gostaríeis talvez de saber o lugar de meu nascimento, pois hoje se acredita que o lugar onde a criança deu seus primeiros gritos é essencial à sua nobreza. Então vos direi que não nasci nem na ilha flutuante de Delos, nem sobre as ondas do mar, nem nas cavernas profundas; nasci nas ilhas Afortunadas, lugar encantador onde a terra, sem ser cultivada, produz sozinha os mais ricos presentes. O trabalho, a velhice, as doenças jamais se aproximaram daqueles campos felizes. Lá não se vê brotar nem malva, nem tremoço, nem fava, nenhuma dessas plantas que são boas apenas para o vulgo. Lá, o moly, a panacéia, o nepentes, a manjerona, as rosas, as violetas e os jacintos seduzem em toda parte o olfato e a visão, e fazem desse lugar encantador jardins mil vezes mais deliciosos do que os de Adônis."
 
Desidério Erasmo
Elogio da Loucura
 
 
Moly: espécie de alho. Planta mágica com flores brancas e raiz negra.
 
Nepentes: na Antiguidade, uma bebida à base de uma planta do mesmo nome à qual era atribuído o poder de cabar com a tristeza.

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