sábado, 6 de outubro de 2007

Anatomia de Uma Crise: Hipotecas "Subprime"


Não sou economista. Não trabalho diretamente com Economia. Sou formado em Engenharia e em Administração. Trabalhei por vinte anos no mercado de alta tecnologia e há alguns anos toco minha própria microempresa (small cap). Mas ouço o rádio, vejo TV, convivo com clientes, fornecedores, funcionários e navego pela Internet em busca de fatos relevantes.


Assim, não poderia deixar de olhar para o novo termo do jargão econômico que veio à tona com a crise no setor de crédito imobiliário norte-americano: “hipoteca subprime”.


E mais, para entender o que significa “subprime” tive que pesquisar outros termos: crise, especulação, bolha, “boom”, contaminação de mercados internacionais, para somente “arranhar” a superfície do tema. Mas foi bom. Agora entendo o que se passa e posso até entender quando um instituto internacional ou algum analista econômico diz que pode estar se formando a amior crise econômica dos últimos 25 anos.


Sei lá, tudo é possível nesses tempos em que “tudo muda tão velozmente que ninguém sabe como o sistema funciona” e que “um investimento perfeitamente sensato na segunda-feira pode se tornar uma especulação tola no dia seguinte”.


Anatomia de uma Crise Típia


Encontrei o modelo de Hyman Minsky( http://en.wikipedia.org/wiki/Hyman_Minsky) , um homem com a reputação de ser particularmente pessimista em sua ênfase na fragilidade do sistema monetário e na propensão deste ao desastre.


Em poucas palavras, Minsky atribui grande importância ao papel das estruturas de débito (empréstimos bancários, cartões de crédito, financiamentos de longo prazo, empréstimos pessoais diretos, etc) como causadoras de dificuldades financeiras e especialmente às dívidas contraídas para financiar (adquirir sem que se tenha os recursos suficientes) a aquisição de ativos especulativos para posterior revenda. Isso porque a expansão do crédito aumenta a oferta total de dinheiro .


O “boom” no mercado imobiliário norte-americano ocorreu de novas hipotecas “subprime”, que permitiram a pessoas de menor renda ou de histórico de crédito ruim (caloteiros ou apenas pessoas que pensavam ter fôlego para honrar novas dívidas - na euforia por ganhos especulativos futuros, os bancos não exigiam qualquer comprovação de renda )adquirirem suas casas próprias. Devido a suas características, essas pessoas pagam taxas de juros mais altas, dando mais dinheiro aos credores - enquanto os pagamentos continuam sendo honrados.
Até aí tudo bem.


Mas o anseio de especular está presente (entenda-se por “especular” aquelas compras de casas feitas com a intenção de revenda, e não de utilizá-las para moradia: o sujeito ía ao banco, tomava dinheiro emprestado para adquirir a sua casa mas, ao invés de mudar-se para esse novo lar, tinha a intençao de revendê-la por um preço superior àquele que comprara e contraíra a correspondente dívida com um banco. Com o preço maior que obtinha – ou esperava obter - com a valorização da casa, quitava seu débito com o banco e embolsava a diferença).


E o anseio de especular transmutou-se (jargão da Alquimia) em demanda (intençao de compra) de mais e mais casas. Após algum tempo o crescimento da demanda exerceu pressão sobre a capacidade de se contruir novas casas. Os preços subiram, propiciando o parecimento de novas oportunidades de lucro e atraindo ainda mais empresas e investidores. Desenvolve-se uma reação positiva à medida que novos investimentos levam a aumentos de renda que estimulam outros investimentos e outros aumentos de renda.


É a fase da “euforia”.


E quando há euforia, o número de empresas e particulares que incidem na prática especulativa cresce, trazendo consigo segmentos da população que normalmente mantém-se à parte de tais aventuras, especulação e lucro afastam-se do comportamento normal e racional em direção ao que tem sido descrito como “manias” ou “bolhas”.


Nesse ambiente, um grupo maior de pessoas procura se enriquecer, semuma real compreensão dos processos envolvidos. Não é surpresa, pois, que fraudes e esquemas floresçam.

A Explosão da Bolha (“boom”)


No limite, o pior aconteceu: muitas hipotecas do tipo subprime se tornaram inadimplentes (lembre-se que as exigências para a concessão de crédito foram extremamente reduzidas lá no início do processo que desemboca agora numa crise). Os investidores bateram em retirada. As exigências de concessão de crédito agoram tomaram o sentido inverso: tornaram-se mais rigorosas.

Com isso, o número de compradores de casas diminui (ao mesmo tempo em que novas empresas, na fase da euforia passaram a investir na contrução de novos imóveis) e, para livrarem-se de seus “estoques imobiliários”, as construtoras estão derrubando os preços.
Pimba: Os preços das casas estão “caindo”.


E aqueles que adquiriram suas casas com finas especulativos esperando justamente a valorização de seus imóveis? Perderam, pois o valor de mercado de suas casas hoje é mais baixo do que a dívida que possuem com os bancos. A aposta deu errado.
A quebradeira foi geral: a bolha estorou.


Especulação – euforia – mais especulação – bolha – mais especulaão – mais euforia + ..... + euforia + ...... ... Boom!


Entendi. Mas, e eu com isso?


Moro no Brasil e já paguei pela minha casa (estou pagando pelo carro).


O Lula disse que não entende porque se um americano deu calote no banco, a Bovespa cai, as ações se desvalorizam e oi risco de uma crise sai dos limites dos EUA e afeta o mundo todo.


Contaminação dos Mercados Globais


Bem, o subtítulo já dá uma písta: os mercados são “globais”.

Embora o modelo de Minsky, que até aqui nos ajudou a entender a crise, esteja limitado a um único país, a euforia, a especulação e seus efeitos tem a tendência histórica de expandir-se de um país a outro.


Os caminhos são muitos:


  • Commodities e ativos negociados internamente cujos preços aumentam em um mercado, em outros têm seus preços aumentados através de arbitragem.

  • O mercado ineternacional comunica as diferenças de receita entre determinado país e outro por meio da queda ou aumento de importação. O câmbi é alterado (O Dólar caiu, O Dólar subiu, etc...);

  • Fluxos capital

  • Fluxos de ouro

O Fed


Na óptica de alguns economistas, o ciclo “especulação – euforia – bolha – boom” acaba exigindo a intervençãos dos Bancos Centrais como salvadores da pátria. Foi o que fez o Fed para acalmar os nercados de crédito ao cortar a meta para a sua taxa de fundos em 50 pontos-base (0,5 ponto percentual), de 5,25% para 4,75% - O movimento surpreendeu muitos analistas que estavam à espera de um corte mais modesto de 25 pontos-base (ou, 0,25%).

Para outros economistas, o "estímulo" agressivo do Fed foi na realidade nefasto: Não somente pavimentará a estrada rumo a uma inflação de preços mais elevada que os americanos já viram em décadas, mas também àquela que poderá ser a maior recessão em 25 anos.



Isso porque um novo ciclo pode estar por vir:la manutenção de taxas de juros artificialmente baixas, fazem com que os negócios se expandam, trabalhadores ejam contratados, recursos sejam empregados em investimentos e assim por diante, mesmo que esses projetos não se justifiquem pela real oferta de poupança da economia. Quanto maior for o “estímulo”, maiores serão as aplicações incorretas de recursos.



Como base para essa previsão, os analistas citam o período que vai de 2001 a 2004, quando o Fed manteve taxas (reais) no nível mais baixo desde o final dos anos 1970. Uma das consequencias que já se manifestaram foia bolha do mercado imobiliário.


Conclusão


Amigos, perdoem-me agum desvio grosseiro, mas, como disse no início, sou engenheiro, administrador e microempresário. Não sou economista e apenas resumi aqui aquilo que entendi.
Mas como participante do dia-a-dia da economia, sinto-me credenciado a elucubrar e por minha cabeça para funcionar, e não somente ficar na dependência de analistas econômicos, pronunciamentos do Mantega ou de outros veículos de informação.



Ah, a propósito, já publiquei um “post” por aqui onde cito uma informação de que em meados de outubro, ou seja, daqui a poucos dias, com a publicação dos balaços de bancos e de centenas de corretoras de seguros norte-americanas teremos condições de prever o que vai dar.



Cautela amigos.

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